Artigo- Veneno tutti-frutti

Por Ismael Benigno-Publicado no dia 18 Fevereiro de 2012 no Jornal Diário do Amazonas

Cerca de 80% das vagas no curso de medicina da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) serão ocupadas por alunos vindos de outros Estados. Salvo engano, o mesmo curso na Ufam também é exclusividade de ‘estrangeiros’. A discussão das cotas raciais e sociais não é recente e não parece também ter prazo de validade. O novo ingrediente da polêmica é o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Ministério da Educação, que permite que, com as notas do Enem, qualquer estudante brasileiro concorra a vagas em qualquer universidade pública brasileira. Dessa ‘concorrência perfeita’ saem curiosidades como os cursos de Medicina do Amapá e do Acre, onde ninguém apareceu para se matricular.Não é simples. De um lado está a realidade, do outro o mundo ideal. A UEA foi pensada para nos proteger dos ‘forasteiros’ que, via de regra, chegam ao vestibular mais preparados, ou por escolas particulares superiores ou por um ensino público de mínima qualidade. Do outro lado está algo sagrado para que se leve a sério a educação de um país: o mérito. Sabemos que a realidade é dura, e que os amazonenses (a maioria pobre) não têm muitas chances diante de alunos do Sudeste.Para amenizar essa injustiça, comete-se outra maior, a de colocar no forno de cérebros do País matéria-prima de baixa qualidade. Soa cruel dizer que um amazonense é menos preparado e que por isso não merece a vaga. Mas soa ainda mais cruel que um paulista mais merecedor perca sua vaga porque o governo decidiu usar o Ensino Superior para sanar injustiças sociais, sempre causadas pelo próprio governo.Brincar de Robin Hood com a educação pública não ajuda em nada. A raiz do problema, que é o ensino básico, segue sem ser atacada, já que estamos fazendo justiça lá na frente. Na outra ponta, a universidade, em essência onde só devem entrar os mais preparados, vira órgão de assistência social e perde em qualidade.A velha meritocracia é uma senhora fria e antipática. Mas é ela quem separa nações desenvolvidas de nações apenas boazinhas.

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